A ler:

Les Miserables, Victor Hugo



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Desejo sem apetrecho

Eu e tu sem amor, sem pudor, ao pulsar do teu sangue quente, ao ritmo das minhas ancas (…)
Vejo as tuas mãos desbravar cada centímetro oculto, cada pedaço de pecado que nem eu ainda saboreei. Sabe a pecado e queima como a tua lava que me corrói e me aquece o ventre: cheio, cheio de ti. E nas pálpebras que me ofereces cerradas e nas pestanas que me percorrem es tão meu e quase que nunca tão vulnerável. Apeteces-me assim. Sempre doce como um cubo de mel derretido que me beija o corpo e se cristaliza na minha boca. Mas de doce enjoo eu, por isso vou trincando a tua acidez com avidez ate me entorpecer no teu turbilhão de sabores.
Dás-me tudo mas também mo tiras de volta. Admiro isso em ti, a tua perícia descarada, o teu olhar esquivo (intenso) que me perfura as costas. Dói não me cansar de ti. Deixas-me tonta. Por isso escrevi como para curar uma eterna ressaca da bebedeira que és capaz de provocar. Eu adoro a violência do teu quadril, o V das tuas costas, não há nada mais parecido com um Apollo, só meu. Que importa quantas mais vezes te vou ter amarrado a mim, a deriva numa cama que nos engole aos dois? Não há maior mar do que aquele que nos separa quando sentimos o peito arfar sob o desejo ardente que temos de disfarçar. Consegues ser os quatro elementos: fogo, terra, agua e ar. A tua sensatez já não me engana, o teu falar pausado também não, o teu olhar já não evita o que queres contornar. Tal como eu. Tens-me nos dedos quando te prendo no meu leito. Não preciso que olhes, mas quero que me consumas. Preciso do teu apetite insaciável, do teu amor de 30 minutos.
Ate a mão lateja ao escrever pois o que deito nesta folha e o que me Fode o juízo todos os Santos dias.
Fotografia : www.olhares.com (autor, nao me lembro :S)

dear life, "I quit".

Nao se assustem. Mas sim, apetece-me entregar a minha carta de demissao, sem pre-aviso, sem nada apenas porque ja nao da e ninguem conseguiu prever o contrario. Como e que se pode dar aviso previo para romper um contrato que nunca se escreveu?Desiludimos, deixamos para tras sem justificacoes plausiveis e talvez com remorsos.Como em qualquer historia de amor digna desse atributo.
Tambem nao quero regalias nem compensacoes em nome dos meus anos de carreira ou dos feitos cumpridos. Poucos nao sao. Dispenso grandes discursos com choros histericos, lencos brancos em mao. Sorrisos sinceros chegam e sobram.Dem-me apenas um ombro amigo para eu encostar a cabecinha e chorar ate encher de agua salgada o mais fundo dos pocos.
Demito-me; mas so por enquanto pois como tudo na vida, nada que e bom dura para sempre...
Assino em baixo,
Musette

terça-feira, 28 de setembro de 2010

pontos.

lagarta de tanque de guerra- Cahama, Angola
dar ponto sem no, traco sem risco, sol sem la
passo sem pedra, anuncio sem reclame, forma sem fundo
perdicao sem perda, fronteira sem fim, fim sem ti.
...
Se todos os (meus) pontos fracos fossem estes; entao fraco seria o ponto que de fraco nada tivesse.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

16/11/09

Gostava de poder acabar a minha história, conduzir as minhas personagens por peripécias e caminhos intermináveis mas e impossível. Não consigo, pelo menos não hoje. Só quero escrever sobre mim, tirar-te daqui, matar a dor de cabeça e fuzilar os sonhos. Ontem sonhei contigo como há muito já não acontecia; não me lembro bem do que mas sei que alguém andava a tua procura e tu só me mandavas procurar no saco, no saco. E depois dizias: eu viajo sempre com dois sacos, o da roupa e o das outras coisas. Procura no das outras coisas.
Estou farta de ti, não sei aonde te pôr. Se te deito fora, arrependo-me. Se te desprezo, sinto-me ridícula. Se te ignoro, dói. Não percebo este sentimento horrendo que me arrepia e deixa confusa, me tira a paz, pois não sei o que dele fazer. Já e papel gasto a mais para falar duma só pessoa, frases desperdiçadas com detalhes que mais ninguém a não ser eu ira perceber. Trinco-te avidamente mas vomito-te em palavras, que se lixe a digestao. Quero fazer uma pausa mas no entanto fazes-me tão bem. Só preciso de duas frases por dia e por mais incrível que pareça tudo fica melhor, mais sorridente, mais fácil.
Há saudade que não se descreve, aquela que deixa um nó na garganta e o olhar perdido, que nos faz andar à deriva despropositadamente, mesmo quando está tudo aparentemente bem. Há saudade que é ansiedade e espera. A minha noção do tempo anda toda trocada; está tudo ampliado, distorcido.
Acho que me repito constantemente e textos como este já estou a começar a enjoar. Tenho que escrever os meus contos inocentes e fabulásticos, inventar as minhas paródias e criticar tudo o que me apetece. És tão egoísta que nem uma mísera folha podes partilhar. Estou sinceramente farta de ti sem realmente o estar. Tudo é contradição, ambiguidade e mistério para mim quando na verdade são simples frases e coisas normais.
Tenho o gene da complicação no que toca a qualquer assunto teu.
Morri.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Conta-me

Mulher mucubal- deserto do Namibe, Angola
Conta-me dos teus dedos as texturas que foram e quantos corações amassaram

As gotas de água que bebeste e tudo o que não disseste, Conta-me do que não vi e de tudo o que não me lembro
E se algum dia a minha memória se desvanecer, lembra-me o meu sorriso no teu.
Conta-me dos mares e desertos áridos que atravessaste, trapos que usaste para cá chegar
Mesmo que tenhas vindo do outro lado da estrada.
Conta-me os sonhos de vidro que se estilhaçaram e as promessas que te quebraram
No aeroporto, ou no banco da estacão.
Conta-me os detalhes ínfimos, irrelevantes que tu tão bem sabes descrever
Conta e mente se for preciso, sobre o tempo lá fora,
Dizendo que a vida sem mim, sem sol; demora.
Visita-me no futuro; e nos vestígios do passado procura o verso final,
Não me contes nada numa linguagem complicada com sabor a falso
Contento-me com o que me contas entre gemidos e abraços.
Conta-me da minha loucura e intolerância que te parece escapar
E pergunta quem me roubou a razão.
Conta e reinventa histórias comigo, mata a rotina e diz adeus ao impossível.
Ouve as mesmas músicas de sempre e finge que é a primeira vez.
Mas não me peças para dizer como, quando nem porquê…Só quero que me contes pois preciso de saber.
25/01/10

Problema de expressão

Não consigo falar nem tampouco emitir sequer um som que se pareça com uma fala. Porque se eu falar vai soar mal, vai ser ridículo ou inadequado. Como quase sempre. Quando devia não me esforço o suficiente e quando não interessa entrego o corpo e a alma numa trouxa só.
Não posso nem tentar delinear os traços tua dor, medir o tamanho da tua tristeza ou carregar o peso que vais arrastando. Porque se eu o fizer, como duas pessoas que mudam um móvel de lugar, daqui para ali, há sempre uma que leva tudo muito a peito e outra que fica com as lá mãos agarradas, só porque sim, mas sem fazer forca nenhuma. Só porque lhe disseram que assim tinha de ser, assim mandam os bons princípios e as boas maneiras: ajudar o outro com um fardo pesado.
Não.
Prefiro ficar calada, ouvir-te e animar-te com caretas do que com palavras vãs. Podes tomar isto por fraqueza minha, mas não. Tu já fazes parte de mim: sorriso do meu sorriso, dedo do meu dedo, beijo do meu beijo. Por isso sentar-me-ei ao teu lado para te poder decorar o olhar de tristeza/triste, pintá-lo nas minhas mãos e dizer: que tela tão feia, vou apagar.
14/05/10