A ler:

Les Miserables, Victor Hugo



quarta-feira, 26 de maio de 2010

16/11/09

Gostava de poder acabar a minha história, conduzir as minhas personagens por peripécias e caminhos intermináveis mas e impossível. Não consigo, pelo menos não hoje. Só quero escrever sobre mim, tirar-te daqui, matar a dor de cabeça e fuzilar os sonhos. Ontem sonhei contigo como há muito já não acontecia; não me lembro bem do que mas sei que alguém andava a tua procura e tu só me mandavas procurar no saco, no saco. E depois dizias: eu viajo sempre com dois sacos, o da roupa e o das outras coisas. Procura no das outras coisas.
Estou farta de ti, não sei aonde te pôr. Se te deito fora, arrependo-me. Se te desprezo, sinto-me ridícula. Se te ignoro, dói. Não percebo este sentimento horrendo que me arrepia e deixa confusa, me tira a paz, pois não sei o que dele fazer. Já e papel gasto a mais para falar duma só pessoa, frases desperdiçadas com detalhes que mais ninguém a não ser eu ira perceber. Trinco-te avidamente mas vomito-te em palavras, que se lixe a digestao. Quero fazer uma pausa mas no entanto fazes-me tão bem. Só preciso de duas frases por dia e por mais incrível que pareça tudo fica melhor, mais sorridente, mais fácil.
Há saudade que não se descreve, aquela que deixa um nó na garganta e o olhar perdido, que nos faz andar à deriva despropositadamente, mesmo quando está tudo aparentemente bem. Há saudade que é ansiedade e espera. A minha noção do tempo anda toda trocada; está tudo ampliado, distorcido.
Acho que me repito constantemente e textos como este já estou a começar a enjoar. Tenho que escrever os meus contos inocentes e fabulásticos, inventar as minhas paródias e criticar tudo o que me apetece. És tão egoísta que nem uma mísera folha podes partilhar. Estou sinceramente farta de ti sem realmente o estar. Tudo é contradição, ambiguidade e mistério para mim quando na verdade são simples frases e coisas normais.
Tenho o gene da complicação no que toca a qualquer assunto teu.
Morri.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Conta-me

Mulher mucubal- deserto do Namibe, Angola
Conta-me dos teus dedos as texturas que foram e quantos corações amassaram

As gotas de água que bebeste e tudo o que não disseste, Conta-me do que não vi e de tudo o que não me lembro
E se algum dia a minha memória se desvanecer, lembra-me o meu sorriso no teu.
Conta-me dos mares e desertos áridos que atravessaste, trapos que usaste para cá chegar
Mesmo que tenhas vindo do outro lado da estrada.
Conta-me os sonhos de vidro que se estilhaçaram e as promessas que te quebraram
No aeroporto, ou no banco da estacão.
Conta-me os detalhes ínfimos, irrelevantes que tu tão bem sabes descrever
Conta e mente se for preciso, sobre o tempo lá fora,
Dizendo que a vida sem mim, sem sol; demora.
Visita-me no futuro; e nos vestígios do passado procura o verso final,
Não me contes nada numa linguagem complicada com sabor a falso
Contento-me com o que me contas entre gemidos e abraços.
Conta-me da minha loucura e intolerância que te parece escapar
E pergunta quem me roubou a razão.
Conta e reinventa histórias comigo, mata a rotina e diz adeus ao impossível.
Ouve as mesmas músicas de sempre e finge que é a primeira vez.
Mas não me peças para dizer como, quando nem porquê…Só quero que me contes pois preciso de saber.
25/01/10

Problema de expressão

Não consigo falar nem tampouco emitir sequer um som que se pareça com uma fala. Porque se eu falar vai soar mal, vai ser ridículo ou inadequado. Como quase sempre. Quando devia não me esforço o suficiente e quando não interessa entrego o corpo e a alma numa trouxa só.
Não posso nem tentar delinear os traços tua dor, medir o tamanho da tua tristeza ou carregar o peso que vais arrastando. Porque se eu o fizer, como duas pessoas que mudam um móvel de lugar, daqui para ali, há sempre uma que leva tudo muito a peito e outra que fica com as lá mãos agarradas, só porque sim, mas sem fazer forca nenhuma. Só porque lhe disseram que assim tinha de ser, assim mandam os bons princípios e as boas maneiras: ajudar o outro com um fardo pesado.
Não.
Prefiro ficar calada, ouvir-te e animar-te com caretas do que com palavras vãs. Podes tomar isto por fraqueza minha, mas não. Tu já fazes parte de mim: sorriso do meu sorriso, dedo do meu dedo, beijo do meu beijo. Por isso sentar-me-ei ao teu lado para te poder decorar o olhar de tristeza/triste, pintá-lo nas minhas mãos e dizer: que tela tão feia, vou apagar.
14/05/10