A ler:

Les Miserables, Victor Hugo



sábado, 26 de novembro de 2011

Namaste

elephant ride, Jaipur- India

Há pequenas crónicas que fazem a diferença e outras que hão de ficar para sempre esquecidas no canto esquerdo do jornal, gratuito ou não. Com a foto do autor estupidamente sorridente a olhar para nós como quem implora: vá lá, lê isto, espremo os meus neurônios para publicar algo decente de quando em vez, faz lá um esforcozito.

Curiosamente, sempre que estou dentro de um avião, dou por mim a fazer as descobertas mais inesperadas nas revistas de bordo. Atiro-me logo às páginas das crónicas de viagens e acabo por aterrar com os melhores excertos enfiados no bolso. Talvez esta seja uma das razões da minha “febre de viajar”; desde cedo inculcada pelos meus pais, mais tarde cultivada com muitos números da National Geographic Magazine e por fim cuidadosamente mantida graças aos meus benditos bilhetes GP/staff tickets.

Muitas vezes estes famosos pedacinhos de papel com fotografias aliciantes levam-nos muito mais além do que qualquer grande reportagem mesmo quando a protagonista parece completamente perdida com a mochila às costas. A escrita, o vívido das experiências em papel transparecem mais emoção e realismo, por mais que contraditorio que pareça. Com a imaginação à solta, dá-nos espaço e tempo para nos pormos no papel principal, fazermos stop e recomeçarmos tudo de novo. A nossa própria aventura, seguindo as pegadas do autor.

O dom de fazer os outros viajar não é definitivamente de todos nem para todos por mais que o narrador seja conciso. Não é como falar de amor, nem de saudade. Ou da tristeza dos cappuccinos ao abrigo da chuva. Os clichés não são tão facilmente disfarçáveis. Por outras palavras, todos nós podemos pegar na caneta ou chegar-nos ao teclado para transcrever o que se sente, o que dói, pois de uma maneira ou de outra temos sempre exemplos à mão ou parâmetros comuns. Tristeza arde. Amor sabe bem. E por ai além.

Mas realmente conseguir ocupar meras páginas com toda uma viagem, todo um país e um povo. Não é para ninguém. Não há cliché que convença o suficiente. O único impacto é aquele do já foi visto e feito. Por mim a perícia destas crónicas reside, não no resumo de tudo mas no exemplo daquilo que mais nos tocou, que vivemos e sentimos por mais adverso e complicado que tudo isso tenha sido. Aí sim, a verdade pelos nossos olhos e não pelas melodias e os filmes dos Outros.

A beleza de conter tudo e muito mais numa só narração. O autor, o medo, as paisagens, os encantos, as impressões, os sabores, o tempo, as atrações, as decepções e tudo mais.

Quem me dera ter o dom de escrever a prosa mais bonita do mundo. Mas vou tentando ser livre de viver e experimentar tudo em todo o lado. Que seja eterno enquanto dure.

Namaste

Picture by N.M. Fernandes

sábado, 22 de outubro de 2011

The hindu chronicles 1

Lembro-me agora do titulo dum filme francês que se eu traduzisse literalmente daria alguma coisa como: "de tanto bater o meu coraçao parou". Sera que alguém realmente ja sentiu na pele a ansiedade que arrepia, nos revira o estômago?(...)Longe de tudo e todos, tentar ocupar 12 horas de um dia para mesmo assim ceder à tentaçao estupida de ficar sentada num banco do aeroporto, a verificar os ponteiros todos os 30 segundos, muito antes da chegada prevista do voo.
E ai que agradeço a inigualdade e o contraste deste pais.
Um dia poder estar numa aldeia hippie isolada aos pés dos Himalayas onde ja se conhece o vendedor de bananas desdentado, onde a lama ja começa a impregnar-se das nossas pegadas; E no outro estar numa metropole gigante onde ao contrario do que muitos pensam é possivel comprar todos os shampoos e corn flakes do mundo. E possivel ir a um spa 5 estrelas, ter o melhor atendimento de sempre e pagar apenas 20 euros por 5 serviços diferentes, incluindo chazinho e bolachas. Impossivel? Talvez quando se tenha em comparaçao a primeira ou segunda capital mais cara do mundo onde esse seria apenas o preço de um brushing aldrabado, com direito a inumeras rectificaçoes e ainda tempo de espera sujeito às Madames (supostamente) mais importantes que nos. Num hotel de 5 estrelas também portanto.
Nesta India de diferenças e impaciencias, também é possivel uma mulher apanhar um taxi até ao aeroporto internacional às horas mais improvaveis da manha sem nenhum motivo de força maior, so porque sim. Porque a saudade nao cabe mais ca dentro nem nas quatro paredes do quarto de hotel por mais fantastico que seja.
Portanto, para nao perder o fio à meada, agradeço estes pequenos detalhes que aliviam a espera e nos dao um pouco de conforto superficial. So para o coracao nao me saltar pela boca em dias como este, em dias em que te espero.
Photograh: Gurinder Gosan/AP

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Blue hotel room

Presidential gardens' gate, Delhi- India
No meio de todo um rol de desconhecido. 54 canais em hindi, uma refeiçao de aviao, uma refeiçao intragavel e outra divinal. 2 dias e quase 2 noites perdidas. Depois de um dia estranho e fascinante, roçar corpos suados a deambular perdidos debaixo de puxadas electricas, numa bruma de especiarias e merda.
Beijar as escadas de um templo desconhecido, cujos escritos e costumes nao me sao nada. Fé que nao me pertence mas que estranhamente me comove.Sujar os pés porque tem que ser né, porque sim. Voltar para o quarto que me comeca a ser estranhamente familiar e vazio. Tudo passa. As coisas nao precisam de ser compridas para serem explicitas nem exageradas. As coisas nao tem que ser em conjunto para serem apreciadas. Ha que aprender.
Daqui para a frente apenas rezo:
- para que o Meu Amor Nunca desapareça,Ninguém me esqueça e no fim de tudo (Ele) sempre me reconheça.
Bons sonhos mundo

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tal.Vez

Ninguem merece o ir e vir.

A incerteza do jet lag,

As promessas pequenas que nunca se cumprem,

Os momentos de pressa para atrasar o relogio na esperanca de o parar.

Ninguem merece imaginar : as pequenas manias, o "aonde,porque,com quem, como?"

Lutar contra os chatos, o transito,o desejo...ao esperar pela mensagem que nao vem.

Por isso perdoo as palavras entaladas e

O que quer que seja que tenha ficado pelo talvez.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

"the road not taken..."

Covent Garden by N.M. Fernandes
E como estar em no meio dum cruzamento, com um transito infernal, buzinas e gritos e asneiras e nao conseguir escolher nenhum dos caminhos nem sequer por a primeira para arrancar.
Nem esquerda
Nem direita
Nem para a frente, nem para tras.
Cada dia que passa, dos 82 que ja se foram parece-me que cada um acrescenta uma pitada de um novo sabor. E simples, perfeito, ponto. Tenho a certeza. Mas certeza que e certeza nao se pode tomar por certa pois engana-nos e apunhala-nos pelas costas. Como o dito por nao dito quando se deixa desdizer , e se desenrola da nossa lingua como um beijo molhado.
O meu caminho pre-estabelecido, pre-planeado, pre-sonhado: hoje com cada vez mais nublina e curvas sinuosas pela frente. Mas sempre um sonho. O outro caminho jaz imovel; pequena restia de um futuro com um sorriso no rosto- incerto.
Qual deles o melhor?
Quem algures, aquando disse que seguir o coracao era o mais obvio e facil....AH!pois entao nunca comeu um MEGA BIC MAC, toneladas de chocolate, bebeu litros de cidra, nunca dancou ate a exaustao, nunca tentou tocar com a lingua na ponta do nariz. Sim, porque para quem nunca fez nada disso; e facil pois claro!
Por fim, resta a duvida que de duvida nao tem nada. Porque o caminho ja foi escolhido e o outro, permanecera desconhecido, pois foi aquilo que caiu bem e que no fundo sabemos(talvez a escolha certa).
Inspired by "the road not taken", Robert Frost

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

se isto, se aquilo

Picture by Andrew Kempson, Cunene/Angola
Gostava de ter nascido com um coracao mais pequeno, do tamanho duma colher va. Que chegasse mas nao sobrasse. Que sofresse mas nao arfasse.
Nao ter esta capacidade de caber tudo e mais alguma coisa ca dentro, uma lixeira sem fim. O desnecessario, o necessario, o verdadeiro, o estupido e o superfluo tambem. Ser daquelas pessoas cujas emocoes estao a flor da mente e nao a flor da pele. Pensar que nem tudo vale a pena, mesmo a alma nao sendo pequena.
Tendo em conta que do tamanho duma colher ja e mais que razoavel e a volta da media geral, e tendo eu este king size: tudo mal. Incompreensivel para quem tenta compreender; inexplicavel mesmo eu querendo dar o braco a torcer.
Gostava de ter nascido com a cabeca mais nos ombros, nem muito para a esquerda nem tanto mais para a direita. Apenas no meio, bem assente. O suficiente para nao ter que andar por ai a remendar-me com fita-cola e desviar-me a tempo das sarjetas no meio da estrada.
Gostava ou gostaria, mas como tudo-utopia.

domingo, 9 de janeiro de 2011

aucune definition disponible.

"No, I even know better than that. I'm looking for selfishness. Perfect selfishness. Like, say I tell you I want to eat strawberry shortbread. And you stop everything you're doing and run out and buy it for me. And you come back out of breath and get down on your knees and hold this strwaberry shortbread out to me. And I say I don't want it any more and throw it out of the window. That's what I'm looking for."
"I'm not sure that has anything to do with love,"I said with some amazement.
"It does," she said. "You just don't know it. There are times in a girl's life when things like that are incredibly important."
"Things like throwing a strawberry shortbread out of the window?"
"Exactly. And when I do it, I want the man to apologize to me.'Now I see, Midori. What a fool I've been! I should have known that you would lose your desire for strawberry shortbread. I have all the intelligence and sensitivity of a piece of donkey shit. To make it up to you, I'll go out and buy you something else. What would you like? Chocolate mousse? Cheesecake?'"
"So then what?"
(...)
"Well, to me, that's what love is. Not that anyone can understand me, though." Midori gave her head a little shake against my shoulder. "For a certain kind of person, love begins from something tiny or silly. From something like that or it doesn't begin at all"
-in Norwegian Wood, by Haruki Murakami (c)
Image: Teotihuacan-Mexico